NOVO NORMAL OU ANORMAL
2020 UM ANO PRA LÁ DE ANORMAL .
PORQUE DE NOVO NORMAL NÃO TEM NADA
Salvio Cucolo
CEO Senha Comunicação
Estamos ao final de um ano totalmente atípico e achei por bem tecer algumas considerações necessárias e fazer uma retrospectiva de como tudo aconteceu para mm e para a minha empresa – Senha Comunicação.
Lembro em janeiro, quando vivíamos normalmente, e assisti àquela reportagem incrível de como os japoneses construíam hospitais em 5 a 7 dias com milhares de leitos e ficamos todos atônitos com sua capacidade construtiva de atingir metas tão ambiciosas. Mas não nos demos conta. Era um povo que já havia entendido a gravidade da situação correndo atrás do prejuízo e tendo que se desafiar, pois já haviam previsto a dimensão do problema que os assolava, e tinham experiência nesse tipo de evento de saúde.
Diante daquela reportagem, passaram-se 2 meses onde vivemos normalmente vendo país a país acordando para um novo problema nunca dantes enfrentado. A pandemia do Coronavírus.
Vimos a Itália sucumbindo, a Inglaterra se enganando, os Estados Unidos menosprezando e omitindo a gravidade da situação, e daí a verdade foi ficando clara (como dizem os americanos: cristal clear) e aportou por nossas bandas, também desavisadas;
Aviões da força aérea brasileira foram de forma atrasada buscar nossos compatriotas em vários países onde o surto já estava fora de controle, montavam-se tendas nos aeroportos sendo construídas às pressas para fazer triagens de 14 dias em quem voltava à terra natal.
Muitos outros complexos abertos como o Anhembi, Pacaembu em São Paulo, e outros grandes espaços em todos os estados de nossa república federativa sendo usados para construir em tempo recorde uma complexidade construtiva para atender , de pronto, o que eles chamavam de: ultrapassar o limite de atendimento de saúde do serviço público e privado, o que aconteceria em muito pouco tempo. Tempos difíceis.
Os países foram se fechando e entendemos a gravidade da situação.
Em nossa realidade cotidiana enquanto empresa , percebi no início de março as notícias de mortes de forma acelerada. Tomei a decisão numa terça a noite, após uma mesa redonda que assisti na Internet sobre o que estava por vir e o que já estava ocorrendo, e na quarta cheguei no escritório e mandei todos iniciarem a partir do outro dia o trabalho remoto a partir de suas casas. Marinheiros de primeira viagem neste modo de trabalho. Todos exceto os coordenadores, 3 pessoas que junto comigo ficaram até sexta mas que iniciaram na outra semana em casa também.
Pensei comigo, àquela altura. Vou vir sozinho no escritório e fico aqui seguro e meus colaboradores em casa como se fosse o capitão a não largar o navio prestes a afundar. Pois bem, vim na segunda, terça e continuava a ler e ouvir notícias. Naquele momento as ruas já paradas, um meio lockdown sem obrigatoriedade ocorrendo. Segunda com cara de domingo.
E continuando em nosso cotidiano de captação de informação de forma total acabara de inaugurar a CNN Brasil que foi um parceiro importante de informação continuada onde bebi muito daquela fonte As entrevistas do Mandeta começavam a ocorrer nas terças, quartas e quintas ao meio da tarde e na quarta feira quase em meio ao pânico de algo que a gente não conhecia, falei para minha esposa.
“To indo na hora do almoço pra casa e arruma por favor o quarto do escritório que vou trabalhar daí. Estou com medo de ficar aqui”.
Desde então, estamos, de lá para cá, a empresa inteira em home office e sou orgulhoso dessa tomada de decisão em prol da segurança dos colaboradores, premissa essa das principais missões da Senha enquanto empresa - prezar pela qualidade no atendimento, satisfação dos que trabalham conosco e especialmente de prover segurança enquanto pessoas que temos coresponsabilidade.
A partir dái, tivemos vários aprendizados.
O Primeiro foi o da relação comercial que passou a ser via call com clientes e fornecedores em um primeiro momento. Estávamos todos aprendendo, tendo que em alguns momentos ainda que auxiliar , ensinar os tramites a clientes e prospects para baixar aplicativos e usar ferramentas de áudio e vídeo de forma eficiente.
Em segundo lugar a relação com os colaboradores passou a ser mais individualizada, o que dá muito mais trabalho, tendo em vista que a passagem de um briefing, conciso ou feedback de reuniões e envio de relatos muito mais detalhados, mudou nosso modus operandi .
Uma conversa que tínhamos em tempos normais, onde fazíamos chats presenciais rápidos em minha sala ou na sala de reuniões com duas ou mais pessoas na empresa física e em 10 minutos conseguíamos alinhar demandas e passar insights com qualidade e velocidade, passaram a ser calls via tlelefone ou vídeo chamadas realizados por meio de 3 a 4 ligações aos envolvidos com toda a dificuldade de disponibilidade deles, que estavam também em outros calls ou respondendo clientes por meios eletrônicos, o que triplicou o esforço e trabalho neste período, ficando tudo muito mais demorado e trabalhoso .
Ou seja, trabalhamos o triplo, exaustivamente, com grande pressão e ansiedade dos clientes também perdidos e tendo que reaprender seu trabalho normal de uma nova forma e comunicar, trabalhar e prospectar, o que foi um dos maiores desafios comerciais para nós e para todos.
O tempo foi passando, entre uma dor de cabeça, outra nas costas, alguns almoços fazendo calls e lendo de tudo sobre o que estava acontecendo, e fomos levando esta nova vida estranha sem uma perspectiva clara.
Lembro de reuniões com meus parceiros coordenadores e de dizer a eles para entender os problemas dos clientes e tentar ajudá-los naquele momento com idéias, para que todo o processo de comunicação não se perdesse e lógico o acesso aos meios digitais tornou-se crucial como sendo o canal principal.
Atacamos de forma muito, mais muito contundente a ampliação dos conteúdos pela pulverização de informação que estava ocorrendo direcionando as mensagens à manutenção da imagem certa que naquele momento deveria ser disseminada, pois a venda de insumos e produtos, não tinha sentido em um momento como aquele, mas o aprimoramento de imagem frente a causas humanitárias, a ajuda ao outro e a promoção de ações sociais parecia ser o mais saudável , além de adaptar a empresa às medidas de combate e protocolos de saúde divulgados exaustivamente mostrando a responsabilidade corporativa .
E assim, ampliamos nossos conteúdos digitais e a presença das empresas, nossos clientes, nos meios, dobramos nosso trabalho nos tornando em alguns casos psicólogos, mentores, informadores, e consultores da pandemia levando informação aos que não tinham tempo de se informar.
Procuramos ter tranquilidade para acalmar ânimos exacerbados, flexibilizando e nos abrindo completamente a horários alternativos para poder ajudá-los. Fomos meio médicos de comunicação.
Aprendemos muito com esse processo e gostaria de ressaltar aqui alguns preceitos que vislumbro foram adquiridos das mudanças estabelecidas e nesse momento de retorno de casos, escrevo esse conteúdo hoje em 17 de dezembro, sobre os insights que este cenário de resiliência nos trouxe.
FATORES PESSOAIS
- Estamos mais fortes.
- Sobrevivemos e estamos aqui para escrever.
- Muitas pessoas cheias de saúde não estão mais entre nós.
- Precisamos nos cuidar de forma real e não confiar nestes governantes. Não sou político e não gosto de me expressar neste setor mas nunca ficou tão explícito que estes caras não trabalham pelo bem público e querem apenas o poder pessoal. Sempre soubemos disso, mas nunca ficou tão claro. E as últimas eleições mostraram um pouco isso.
- Somos resilientes porque conseguimos apesar de todas as adversidades aguentar uma vida de certo modo sem sentido, pois trabalhamos para pagar contas e nem mesmo podemos nos arejar, socializar e estar entre os entes queridos.
- As diferenças de gênero ficaram expostas e a sociedade mostrou sua incapacidade de cuidar e conviver com todas as diferenças.
- A convivência em casa com a família aproximou e dividiu casais e famílias. Mas já era o prenúncio do que estava por vir, com cada caso tendo suas consequências dando velocidade às tomadas de decisão.
- Estamos mais eficientes e super informados, pois todos, mas todos tem hoje uma ferramenta chamada smarthphone, e sabem usar muito bem sem diferenças de faixa etária e poder aquisitivo., basta ver os apps da CAIXA que todos tiveram que entender e hoje é conhecimento irraízado.
- O Brasil descobriu a quantidade de pessoas autônomas e o grande contingente de trabalhadores invisíveis que não estavam em nenhum destes grandes levantamentos do IBGE e que nunca acertam nem de perto um retrato da real situação brasileira.
FATORES EMPRESARIAIS
- Enquanto empresa estamos mais fortes.
- Entendemos que trabalhar em home office não é um bicho de sete cabeças, basta se organizar para tal.
- Descobrimos que a empresa tinha todos os seus processos e modelo de negócio digitais e na nuvem, o que nem a gente sabia direito o quão estávamos preparados para um cenário como esse e que não houveram perdas de eficiência e nem de alinhamento das demandas e projetos. Lógico que a falta do contato presencial acaba por tirar um pouco do DNA da empresa criando discrepâncias de postura, permitindo algumas facilidades e aberturas, mas isso eu deixo para as consciências individuais avaliarem. Mas imagina uma equipe coesa que trabalhou muito cumprindo com suas obrigações e entregas. Orgulho desse time.
- As lives das 17 às 21 horas viraram nosso horário nobre, onde vimos de experts a aproveitadores passando sua mensagem que tínhamos o direto democrático de ouvir ou mudar de canal.
- Ficou claro para empresas corporativas e autônomas que sem uma presença digital e posicionamento de imagem, trabalho que é o nosso core business, não se atinge mais o cliente ideal que não atende mais telefone e um contato direto é mais difícil de ser realizado.
- Alguns setores, muitos e muitos deles ainda não acordaram para a mudança de comportamento em curso já a algum tempo e continuam trabalhando como antes. Necessário acordar!
- Ganhamos novos clientes.
- Terminamos o ano com o sentimento do cumprimento de nossas obrigações .
Ou seja, estamos diante de uma mudança que já sabíamos estava acontecendo rapidamente, mas que a pandemia acelerou de forma incrível. Já ouvi relatos de que este novo modelo de viver e trabalhar talvez fosse virar comum em 3 ou 4 anos, mas em 10 meses isso veio pra ficar.
Não acho isso de todo ruim, apenas que foi abrupto de mais em meio a um desespero de saúde pública, impossibilidade de planejamento visto que não havia perspectivas de longo prazo, ou melhor vivemos por uns 4 a 6 meses, semana a semana, mês a mês, com grande desequilíbrio emocional.
Como sabemos a mudança e a tirada da zona de conforto é benéfica para poucos e tóxica para muitos. E vimos cair empresas, discursos, projetos, planejamentos e engavetamento de perspectivas.
Por fim, grandes empresas entenderam seus papéis, ajudaram muito com movimentos em prol da não demissão e ajuda humanitária com investimentos no setor de saúde e de certo modo algumas ações governamentais, bem mal planejadas, mas que ajudaram empresas e pessoas desempregadas que ao menos puderam sobreviver e ter seu sustento em meio a dificuldade escancarada.
Como resumo geral, em minha opinião pessoal enxergo assim os próximos passos:
- Estamos ainda entendendo essa nova realidade, com certo grau de perspectiva frente aos próximos 10 meses com a vacina.
- Vamos entrar em 2021 mais conscientes desse novo mundo e muito, mas com muito mais pé no chão. Não acreditando mais nas inverdades dos governantes.
- O que interessa de fato são as pessoas e não as estruturas físicas de escritórios e grandes espaços lindos.
- Precisamos cuidar de nosso psicológico, de nossos filhos e entes, muito afetados por tudo isso.
- Precisamos de uma vez por todas ficar mais tempo com familiares, especialmente os mais idosos e aproveitar cada segundo com amigos e parentes, pois não sabemos o dia de amanhã. Porque olha! Um meteoro cair na Terra já entra nas minhas probabilidades de ocorrer.
- Dinheiro não é tudo, haja visto que se você não puder desfrutar das coisas e da companhia de nossos entes queridos de que adianta.
- Estar em um trabalho que respeita seus colaboradores, tem reponsabilidade e da estabilidade, já é para se colocar no radar e valorizar muito. Porque ainda há pessoas que não priorizam isso.
- Nunca antes o empresariado precisou de instituições financeiras que demandam auxílio sem querer tirar proveito com taxas abusivas e relacionamentos medíocres. Espero que com os bancos digitais e tendo passado por tudo isso como todos passamos exista mais compliance e humanidade nesta relação. Sei que isso é uma utopia, mas acredito nisso.
Ou seja, que 2021 seja um pouco mais normal, porque o novo normal não é tão normal assim, muito pelo contrário e eu preferia um novo mundo com o antigo normal. Aquele da época de meu pai, com mais gentileza, tempo, boas atitudes, amizade, competição construtiva e bons exemplos.
PORQUE NESSE NOVO NORMAL DE HOJE, PARA MIM TÁ TUDO ANORMAL..